quinta-feira, 29 de março de 2012

A SUPERSTIÇÃO DO MARIMBONDO

       Me lembro bem da tortura pela qual eu passava. Durante muitas noites, fiquei acordado a ouvir aquele ruído de alguém que eu não conseguia ver.
       O meu querido "paipai" havia partido para um lugar que eu desconhecia. Ele não voltaria mais e eu teria que me conformar com aquela realidade.
        Em cima do meu beliche, debaixo do qual a minha irmã dormia, eu ficava noites e noites em sofreguidão, pois um "fantasma", que eu não conseguia visualizar, fazia um barulho, como se alguém estivesse a mexer em papeis.
        Os anos se passaram. Eu cresci e, por trabalhar, já não dava a mínima para aquele ruído misterioso.
         Num belo dia de sol, a minha querida mãe resolveu fazer uma limpeza na casa.
         Então, num relance, ela resolveu retirar uma velha casa de marimbondos que estava, já havia muitos anos, ali, bem em cima do meu beliche.
         Como que, por encanto, a tal caixa de marimbondos estava cheia de baratas. E, num relampejar de idéias, descobri que o ruído misterioso provinha, durante todos aqueles anos, das baratas que fizeram ninho dentro da velha caixa de marimbondos. E eu a culpar um pobre fantasma que nunca existira.
         Vinte anos depois, eu estava em uma piscina de hotel com amigos e, repentinamente, começaram a aparecer marimbondos daquela mesma espécie que causara o meu tormento no passado.
         Então, uma mulher saiu da piscina e disse:
       - Isso é EXU CAVEIRA!
       - Uai Marilacas, o que é esse tal de "Exu Caveira".
         Aí a mulher, no seu sotaque meio abaianado e meio amineirado contou-me que quando esses marimbondinhos pretos  aparecem em alguma casa é porque eles receberam a ordem de matar alguém, proveniente de alguma macumba. É claro que eu não acreditei naquela estória; sempre fui muito cético. Mas, como todo mineiro desconfiado, passei a observar melhor os tais marimbondos, afinal eles tinham uma dívida para comigo.
      
         Pensei comigo:
 - Pode até ser verdade essa estória, pois não é que o meu pai ficara em cima do meu beliche, justamente, embaixo da caixa de marimbondos pretinhos ? E não é que os marimbondos, então, vieram trazer a macumba pro meu pai morrer a partir daquele ponto ?
       
       Os anos se passaram e fiquei encafifado, até que, recentemente o meu sogro veio a falecer. Fomos ocupar a casa dele que ficara vazia e abandonada. E o que encontro lá ? Os tais marimbondos. Então, num acesso de raíva, lançei mão de inseticida e os expulsei, sem antes, ter o prazer de ver muitos deles caídos no campo de batalha.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O FRANGO QUE NÃO CRESCEU.

A nossa mãe adorava criar galinhas!
- Ô bicho bão sô! É só enfiar o mio pelo bico e sortá o ovo pelo rabo!
Então, numa leva de pintainhos, bem bonitinhos, surgiu um galeto que não crescia de jeito nenhum. O tempo passava e lá ficava o bicho do mesmo tamanho. Ele era o desânimo do galinheiro. Levava bicadas de um e de outro e ainda apanhava até das franguinhas, suas irmãs.
O tempo foi passando e os seus irmãos ficaram grandes. Alguns se transformaram em farofa, em ensopados... Que gostosura.
E a minha....nossa mãe só ficava matutando e matutando e matutando sobre aquele " bichinho da peste" que comia, comia e não crescia.
Então, ela resolveu fazer uma "cirurgia" no animal, de tal maneira que, uma vez terminado o serviço, um gostoso guisado seria servido: ensopado de frango anão.
Eis que o fato se revelou : um poderoso grampo de cabelo estava cravado no sobre-bunda do pobre animal, e, daí se concluiu a razão pela qual o bicho não crescia.
Explicando a coisa científicamente: o grampo, provavelmente, se entranhara na pele do animal durante um banho de aréia e se encravara perto dos testículos, impedindo assim a liberação do hormõnio necessário para o crescimento daquela infeliz ave.
De qualquer forma , para alegria geral dos meninos, alí se encerrou a estória do galeto anão em forma de um gostoso ensopado.